O PLANAPP acaba de divulgar uma Nota de Análise sobre a evolução da produtividade do trabalho no período 2008-2022 em Portugal, detalhada por 38 ramos de atividade. Usando como indicadores o Valor Acrescentado Bruto (VAB) por trabalhador e VAB por hora trabalhada, a análise é efetuada através da distinção entre o efeito de produtividade setorial, i.e., o contributo de cada ramo de atividade na economia para a variação da produtividade agregada (total da economia), e o efeito de composição setorial, i.e., o contributo da alteração do peso de cada ramo no emprego agregado para a variação da produtividade agregada.
A principal conclusão é que todos os ramos de atividade que alcançaram ganhos de produtividade neste período registaram perda de peso no emprego e que uma parcela maioritária deles perdeu relevância na economia portuguesa medida através do peso no VAB.
Mas os resultados do estudo revelam várias tendências que contribuem para caracterizar a dinâmica da produtividade no tecido produtivo português.
A produtividade do trabalho na economia portuguesa sofreu um notório abrandamento em torno da segunda década do século XXI. Considerando como referência o ano 2008, altura do impacto da crise financeira internacional nos países europeus, constata-se que, no período 1996-2008, a taxa de variação média anual do VAB por hora trabalhada foi de 1,2% e, no intervalo 2008-2022, de 0,8%. Por sua vez, a divisão do segundo período nos intervalos 2008-2015 (correspondente à crise financeira e das dívidas públicas europeias, até ao fim da intervenção da troika em Portugal) e 2015-2022 revela, para o primeiro intervalo, uma taxa de variação média anual de 1,0% e, para o segundo, de somente 0,5%.
Considerando a decomposição da variação da produtividade do trabalho para o total da economia no subperíodo 2008-2015, o aumento da produtividade que se observou recebeu contributos tanto do efeito de produtividade setorial (i.e., ocorreu ganho de produtividade na média ponderada dos ramos de atividade) como do efeito de composição setorial (i.e., ocorreu globalmente ganho de peso dos ramos de atividade mais produtivos). Porém, no subperíodo 2015-2022, o efeito de produtividade setorial foi claramente dominante, com um efeito de composição setorial negativo (i.e., ocorreu perda de peso dos ramos de atividade mais produtivos) no caso da produtividade medida pelo VAB por hora trabalhada.
Detalhando a análise por ramo de atividade, no cômputo do período 2008-2022, e conjugando os efeitos de produtividade setorial e de composição setorial com a análise da dinâmica do peso dos diferentes ramos no VAB total da economia, conclui-se que:
- Uma proporção crescente de ramos de atividade no tecido produtivo português aparentaram estar expostos a processos de ganhos de eficiência “contracionistas”, ou seja, que se traduziram num aumento da produtividade mas também numa redução relativa de utilização do input (medido pelo fator trabalho) e da quota de mercado em termos de output (medido pelo VAB). Destacaram-se, de entre estes ramos, a ‘Agricultura, silvicultura e pesca’, ‘Indústrias extrativas’, ‘Indústria têxtil, do vestuário e do couro’, ‘Indústria da madeira, pasta, papel e cartão’, ‘Construção’, ‘Telecomunicações’, ‘Atividades financeiras e de seguros’ e ‘Administração pública e defesa’. Estes ramos pesavam, no seu conjunto, 29,7% do VAB total da economia em 2022.
- Os ganhos de eficiência “expansionistas”, ou seja, que permitiram ganhos de produtividade numa redução relativa de utilização do fator trabalho mas com ganhos de quota de mercado em termos de output, abrangeram apenas as ‘Indústrias alimentares, das bebidas e do tabaco’, a ‘Fabricação de artigos de borracha e de matérias plásticas’ e o ‘Comércio por grosso e a retalho’. Estes ramos pesavam, no seu conjunto, 20,9% do VAB total da economia em 2022.
Esta Nota de Análise insere-se numa agenda de estudos do PLANAPP mais alargada, dedicada à análise das dinâmicas da produtividade e dos salários em Portugal.
