O PLANAPP acaba de divulgar uma Nota de Análise (consulte o documento) sobre a evolução dos salários por nível de ensino em Portugal. A análise foca-se na comparação entre trabalhadores com diferentes níveis de ensino, revelando o diferencial salarial que é estatisticamente atribuível às diferenças de educação entre trabalhadores, indicador designado por prémio salarial da educação. Este indicador espelha a relação entre procura e oferta de qualificações específicas, como reflexo de fatores como sejam a adequação das qualificações dos trabalhadores ao perfil de especialização produtiva e as características tecnológicas das empresas na economia nacional.
Os resultados do estudo revelam várias tendências que contribuem para caracterizar o mercado de trabalho português e as relações entre educação, salários e estrutura produtiva, designadamente:
i) A composição da força de trabalho em Portugal mudou substancialmente nas últimas décadas. Entre 1991 e 2021, a proporção de trabalhadores com ensino básico reduziu-se em quase metade (de 85% para 45% do total), enquanto a proporção de trabalhadores com ensino superior foi multiplicada por 10 (para perto de 25% do total). Entre 2010 e 2021, destaca-se, de entre os trabalhadores com ensino superior, o acréscimo dos trabalhadores com mestrado. Ainda assim, em 2021, os trabalhadores a entrar no mercado de trabalho que detinham mestrado eram apenas 5,7% do total, face a 22,1% de trabalhadores com licenciatura.
ii) Os dados demonstram uma associação positiva entre o nível de educação e os salários auferidos, tal como seria de esperar. Contudo, considerando as estimativas de prémios salariais por nível de ensino adicional, observa-se, desde há quase duas décadas, uma redução dos prémios salariais médios associados ao ensino secundário e à licenciatura. Mais recentemente, aquele comportamento foi acompanhado pelo aumento dos prémios associados ao ensino pós-secundário não superior (cursos profissionalizantes) e ao mestrado.
iii) Recorrendo a uma metodologia que permite evidenciar a heterogeneidade entre trabalhadores individuais no que toca os prémios auferidos em cada nível de ensino, verifica-se que, entre 2010 e 2021, os trabalhadores com ensino secundário e com licenciatura que ganham prémios mais baixos aumentaram o seu peso relativo no conjunto dos trabalhadores com o mesmo nível de ensino, muito embora os prémios muito altos não tenham desaparecido. Como consequência, estes níveis de ensino tornaram-se mais desiguais em termos do prémio salarial que lhes está associado.
iv) Dá-se também conta da importância de ramos de atividade específicos (mais intensivos em conhecimento e tecnologia) para a formação das gamas de prémios salariais mais elevados, a par de uma disparidade relevante entre diferentes ramos dos serviços e da indústria. Existem também disparidades significativas nos prémios salariais associados a diferentes áreas de estudos. Áreas como as tecnologias da informação e comunicação (TIC), ciências exatas e da saúde e engenharia tendem a ter prémios salariais mais elevados. Merecem também destaque, sobretudo ao nível do mestrado, as ciências empresariais e direito.
Esta Nota de Análise insere-se numa agenda de estudos do PLANAPP mais alargada, dedicada à análise das dinâmicas da produtividade das empresas e dos salários em Portugal.